
Nordeste em Cena: Sergipe Renova a Identidade do Cangaço com “Guerreiros do Sol”
As paisagens áridas e carregadas de simbolismo do sertão sergipano voltam a ser protagonistas na dramaturgia brasileira. A nova novela “Guerreiros do Sol”, produção original de uma grande emissora nacional para streaming, escolheu o estado de Sergipe como cenário central de uma trama que resgata as memórias do cangaço com um olhar renovado, cinematográfico e profundamente nordestino.
A cidade de Canindé de São Francisco e outras localidades do Alto Sertão foram palco de gravações intensas. Locais como o Vale dos Mestres, a Fazenda Mundo Novo, o Assentamento Adão Preto e a histórica Grota do Angico — onde Lampião e Maria Bonita foram mortos — serviram como ambientação natural da obra. Mais do que simples paisagens, esses lugares se tornaram parte essencial da narrativa, oferecendo realismo, emoção e uma conexão espiritual com a cultura popular da região.
A produção teve o cuidado de realizar uma cerimônia simbólica antes das gravações na Grota do Angico, pedindo licença aos ancestrais. Esse gesto revela o respeito da equipe pelas raízes culturais e espirituais do sertão, o que também se refletiu nas escolhas técnicas e artísticas.
Além das gravações externas, foi construída uma cidade cenográfica inspirada em vilarejos dos anos 1920. A ambientação inclui detalhes como iluminação à base de lamparinas, paredes de barro, janelas de madeira e ruas de terra batida, criando uma atmosfera fiel à época. Internamente, foram reproduzidos ambientes típicos como igrejas, mercearias, escolas, casas de beatos e delegacias, garantindo autenticidade e densidade ao enredo.
O elenco conta com atores nordestinos de diversos estados, reforçando a proposta de valorização da cultura local. Essa decisão deu à produção um sotaque real, um corpo genuíno e uma alma sertaneja. É um resgate que vai além da representação: é afirmação identitária.
O impacto da novela já pode ser sentido no turismo da região. A chamada “Rota do Cangaço”, que inclui passeios de barco pelo Rio São Francisco, trilhas até a Grota do Angico e visitas a monumentos históricos, ganhou novo impulso. O sertão, antes marginalizado, agora se torna destino cobiçado por viajantes, curiosos e amantes da cultura popular brasileira.
Mais do que uma narrativa ficcional, “Guerreiros do Sol” é um movimento de valorização cultural. Sergipe, com seu solo rachado, sua memória viva e sua gente forte, se transforma em vitrine nacional. A novela não apenas entretém: ela educa, emociona e reconecta o Brasil com suas raízes mais profundas. O sertão, tantas vezes estereotipado, agora é visto com outros olhos — como território de resistência, beleza e poesia.